quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Brasil no Vaticano.

O embaixador de Dilma no Vaticano

Por Paulo F.
Do Comunita Italiana
A chave de Dilma no Vaticano
Por Gina Marques - Roma
O novo embaixador do Brasil na Santa Sé abre as portas de sua residência no Palácio Caetani, onde viveu Caravaggio, e conta com exclusividade à Comunità os detalhes da conversa que teve com o Papa Bento no dia da cerimônia de posse
Ele foi recebido pelo Rei e pela Rainha da Bélgica, pelo Grão-Duque e pela Grã-Duquesa de Luxemburgo e, recentemente, pelo Papa Bento XVI. Conhece pessoalmente diversos presidentes de vários países do mundo e coleciona condecorações. A carreira diplomática de Almir Franco de Sá Barbuda é repleta de glórias, mas nem por isso ele perdeu a simplicidade. Em 42 anos de serviço no Itamaraty, foi escolhido pela presidenta Dilma Rousseff para ser o embaixador do Brasil junto à Santa Sé, cargo que ele define como “chave de ouro”, antes de se aposentar ao fim de 2013. Afinal, ele terá a honra de acompanhar a segunda viagem de Bento XVI ao Brasil na ocasião da 48ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em julho de 2013, no Rio de Janeiro, um evento que poderá reunir cerca de quatro milhões de pessoas.
p>No encontro com a revista Comunità Italiana, Almir Franco de Sá Barbuda falou da sua vida em Roma e da carreira diplomática, e contou os detalhes da reunião com o Papa Bento XVI ocorrida em 31 de outubro, quando lhe entregou as Cartas Credenciais como embaixador do Brasil junto à Santa Sé. — A nossa conversa durou cerca de 20 minutos. Falamos da situação socioeconômica brasileira e da próxima Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Fiquei impressionado com a sua cultura, com o conhecimento que ele tem do Brasil e, principalmente, com a capacidade dele de te deixar a vontade. Durante o encontro, o Papa me perguntou sobre a saúde do ex-presidente Lula e disse que iria rezar por ele. Assim que voltei para casa, escrevi ao Lula contando que alguém muito especial lhe dedicava as suas orações e ele ficou emocionado — conta.
Emoção também não falta ao embaixador. Seus olhos brilhavam quando ele descreveu o protocolo para ser recebido pelo Papa. O cerimonial pede que os diplomatas acreditados junto à Santa Sé usem a casaca com as condecorações, enquanto as mulheres devem portar vestidos pretos com um véu da mesma cor sobre a cabeça. Para esta ocasião especial, vieram as suas duas filhas, Gabriela e Adriana, e seus dois netinhos. Ao cumprimentar o Papa, o filho de Gabriela, Cauã, de 6 anos, ficou tímido e abaixou a cabeça.
Adriana, que vive nos Estados Unidos, veio acompanhada do marido americano Gavin e da filha Sasha, de 7 anos.
O protocolo é perfeito porque, para a Igreja Católica, a tradição é um rico patrimônio cultural. Naquela manhã, o Vaticano enviou três carros à sua residência, um para o embaixador, outro para a família e o terceiro para o corpo diplomático. Os veículos seguiram em comitiva precedida por um grupo de batedores que abriram os caminhos pelo trânsito de Roma.
— Ao chegar ao Vaticano, fui recebido pelo Gentiluomo no pátio de São Damásio. Ele me acompanhou dentro do Palácio Apostólico, onde a Guarda Suíça Pontifícia prestou as honras. Em seguida, atravessamos um corredor longo, a Loggia, com teto e paredes decoradas com afrescos renascentistas, onde encontramos os assessores na antecâmara do papa. Da Loggia, seguimos em cortejo para a sala Clementina, onde fomos recebidos pelo prefeito da Casa Pontifícia, que me apresentou ao Pontífice, em sua Biblioteca Pessoal.
Após a apresentação e a troca de discursos, houve um diálogo só entre nós dois — narra.
Depois da audiência, entraram os familiares do embaixador, que foram apresentados, um por um. Em seguida, os diplomatas. Todas as etapas estão documentadas com fotos de grupo. Logo após, o embaixador foi recebido pelo secretário de Estado da Santa Sé, o cardeal Tarcisio Bertone. Mais tarde, foi acompanhado em uma visita dentro da Basílica de São Pedro, onde fez orações na Capela do Santíssimo Sacramento e, depois, ao Altar da Virgem Maria. Por fim, no túmulo de São Pedro. Esta é uma etapa tradicional, reservada só aos países cuja maioria da população é católica. O Brasil é o país com maior número de católicos no mundo: cerca de 130 milhões de brasileiros foram batizados — o que corresponde a 68% da população.
Jornada Mundial da Juventude
Este é um grande momento para o Brasil. Além da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016, em junho do próximo ano, o Rio de Janeiro vai hospedar a Conferência das Nações Unidas sobre ambiente e desenvolvimento sustentável, a Rio+20. Em julho de 2013, também no Rio, aguarda-se o maior evento católico do mundo: a Jornada Mundial da Juventude. Segundo o embaixador Barbuda, estima-se que a próxima JMJ possa superar o grande evento de 1995 que ocorreu em Manila, nas Filipinas, e contou com a participação de 4 milhões de pessoas. Ele explicou também que o evento é realizado a cada três anos, mas que o Vaticano decidiu antecipar um ano para realizá-lo no Brasil. O anúncio foi dado por Bento XVI durante o último dia da JMJ de 2011, em Madri, na Espanha.
— A Jornada Mundial da Juventude é bem programada. Os países interessados apresentam as suas candidaturas e uma comissão do Vaticano avalia a melhor opção. No nosso caso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fez uma excelente apresentação. Reconheço e agradeço também o trabalho dos meus antecessores, como a embaixadora Vera Barrouin Machado e o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Graças ao trabalho de todos eles e do governador Sérgio Cabral, poderemos hospedar este grande evento — afirma.
Residência do embaixador é o Palácio Caetani
— Eu nunca poderia imaginar que um dia moraria num palácio onde o artista Caravaggio viveu por dois anos, de 1601 a 1603 — confessa o atual embaixador. Trata-se do Palácio Caetani, a Residência da Embaixada do Brasil junto à Santa Sé. A construção tem quase 500 anos e fica na Via delle Botteghe Oscure, em uma das áreas mais antigas e tradicionais do centro histórico de Roma. A riqueza cultural do lugar está dentro e fora. Para se ter uma ideia, a poucos metros dali, ficam as antigas ruínas romanas onde o imperador Júlio César foi assassinado no ano 44 antes de Cristo.
O palácio foi construído por Alessandro Mattei em 1545. A sua história está ligada a duas grandes e importantes famílias romanas: a dos Mattei, que moraram nele por cerca de um século meio, e a dos Caetani, seus proprietários por mais de cem anos e responsáveis por parte da decoração interna em estilo barroco.
O monumento abriga a residência do embaixador do Brasil junto à Santa Sé há 42 anos. Por coincidência, foi em 1969 que Barbuda concluiu os estudos da carreira diplomática no Instituto Rio Branco e entrou no Itamaraty.
São diversas as salas ricamente decoradas com quadros e objetos de valor inestimável. Considerando a preciosidade do lugar, seu cão Benji, de raça wheaten terrier, pode entrar somente na área de serviço e no grande terraço. Benji, de três anos de idade, foi comprado nos Estados Unidos, país onde Barbuda foi cônsul-geral do Brasil em Washington, de 2008 a 2011.
A paixão pela lírica
Almir de Sá Barbuda nasceu em Manaus em 1943, onde viveu até os 10 anos de idade. Seu pai era político e, como deputado federal, foi transferido com a família para a então capital do Brasil, o Rio de Janeiro.
Ao longo da sua carreira diplomática, não é a primeira vez que Barbuda vive em Roma: de 1985 a 1988 ele foi designado representante alterno da Representação junto à Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).
— Eu sempre quis voltar a viver em Roma, mas quando eu me aposentar, vou morar no Rio.
Para ele, viver na Itália significa estar em uma sintonia perfeita, pois a sua grande paixão é a música clássica, em particular a lírica e a ópera. Quando é possível, vai ao Teatro Amazonas, em Manaus. Nos intervalos, aproveita para tomar um bom Tacacá, caldo típico amazonense.
— Algumas vezes aproveito um fim de semana para viajar à Veneza ou a Nápoles para assistir a uma grande ópera. Aqueles que amam a lírica são assim, programam suas viagens de acordo com os espetáculos, porque os lugares são sempre interessantes — explica.
Na vida de um embaixador, a saudade é uma companheira contínua. Saudades do Brasil, para onde Barbuda voltará daqui a dois anos, encerrando uma carreira gloriosa. Em compensação, ele vai deixar cantar de novo o trovador, ouvindo sons das fontes murmurantes na sinfonia da floresta.
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